Recriando Strauss no século 21: quando o drum & bass encontra a orquestra
Em 2025, por ocasião do bicentenário de Johann Strauss II — famoso como “O Rei da Valsa” — surge uma iniciativa ousada que une mundos musicais distantes: o Red Bull Symphonic – Johann Strauss 2025 Edition, protagonizado pelos produtores de drum & bass Camo & Krooked, em parceria com o maestro e arranjador Christian Kolonovits, e a Wiener Symphoniker (Orquestra de Viena).
A proposta é ambiciosa: desmontar o universo musical de Strauss e reconstruí-lo através da lente moderna do eletrônico, com batidas, drops e texturas sonoras que dialogam com arranjos orquestrais.
Os protagonistas: Camo & Krooked e Christian Kolonovits
Camo & Krooked
O duo austríaco formado por Reinhard “Camo” Rietsch e Markus “Krooked” Wagner é reconhecido como um dos nomes mais influentes do drum & bass contemporâneo.
Desde 2007, eles têm expandido os limites do gênero, com álbuns como Zeitgeist e Mosaik, além de remixes e produções que mesclam sofisticação técnica e espírito inovador.
Em 2020, já haviam se aventurado em parceria com Kolonovits no primeiro Red Bull Symphonic, reinterpretando seu catálogo com instrumentos orquestrais.
Christian Kolonovits
Maestro, compositor e arranjador de renome, Kolonovits atua em múltiplos gêneros e contextos musicais.
Ele já participou de produções orquestrais, musicais e arranjos para óperas, além de colaborar com iniciativas pop-sinfônicas como as edições anteriores do Red Bull Symphonic.
Sua expertise é fundamental no projeto de transposição artística entre o clássico e o eletrônico, atuando como ponte para conexões harmônicas e dramáticas entre orquestra e batidas contemporâneas.
Formato e execução do espetáculo
Locais e datas
O projeto ocorre em Viena, com uma apresentação ao ar livre no Donauinselfest — um importante festival local.
Além disso, uma versão estendida do show será apresentada no Wiener Konzerthaus, espaço tradicional da cena clássica vienense.
Nos dias 18 e 19 de setembro de 2025, o Konzerthaus recebeu o espetáculo em apresentações esgotadas, reunindo público diverso em uma celebração híbrida entre eras musicais.
Concepção musical e repertório
A proposta era desestruturar melodias clássicas de Strauss e reconstruí-las em arranjos eletrônicos — sempre mantendo a integridade melódica e o espírito emotivo das composições originais.
Por exemplo, “Persian March” foi um dos momentos-chave do concerto, servindo como ponto de partida para explorar fusões entre o compasso tradicional e a estrutura eletrônica.
Faixas como “Numbers” e versões reimaginadas de “Walking in the Vienna Woods” foram reconstruídas em camadas onde síntese, percussão eletrônica e arranjos orquestrais se entrelaçaram.
Destaque também para “Sientelo”, execução grandiosa em que vozes corais se unem à orquestra e aos elementos eletrônicos.
Não se tratou apenas de som: a experiência visual teve papel central. Projeções, efeitos de luz sincronizados e até esculturas — como uma imponente cabeça de Johann Strauss sobre o palco — foram integrados ao espetáculo, reforçando a sensação de convergência entre passado e futuro.
A cenografia buscou refletir as transformações sonoras em tempo real, com gráficos e imagens abstratas que fluíam conforme a música se desenvolvia.
Impacto, desafios e recepção
Desafios artísticos
Uma das barreiras esteve na transposição de composições em ritmos ternários ou métricas clássicas para o universo binário do eletrônico — encontrar o ponto de encontro entre os estilos sem descaracterizar nenhum dos lados.
Outro desafio foi equilibrar a presença imponente da orquestra com os elementos de baixo, percussão e sintetizadores para que cada parte tivesse clareza no som.
Recepção do público e crítica
A recepção foi, em geral, muito positiva. Em Viena, o Konzerthaus lotou, com público que mesclava aficionados da música clássica e entusiastas da música eletrônica, todos reunidos em torno de uma proposta arriscada e instigante.
Críticos elogiaram a coragem conceitual, a qualidade dos arranjos e a sinergia entre músicos orquestrais e produtores eletrônicos. O espetáculo foi descrito como “uma fusão sublime entre eras musicais” e “uma celebração audaciosa do legado de Strauss com os sons do presente”.
Para quem não pôde assistir presencialmente, o concerto será transmitido via Red Bull TV a partir de 7 de outubro de 2025. Além disso, haverá uma estreia na televisão no dia 25 de outubro, exatamente na data do aniversário de Strauss.
Conclusão
O Red Bull Symphonic Johann Strauss 2025 Edition com Camo & Krooked e Christian Kolonovits simboliza uma ponte artística entre mundos musicais que raramente se encontram. Ao reinterpretar Strauss com olhos modernos, o projeto celebra não só a memória de um mestre da valsa, mas também abre caminhos para a reinvenção criativa de gêneros.
É um testemunho do poder da música ao transcender fronteiras — temporal, estilística e cultural — e reafirma que, em mãos habilidosas e visionárias, melodias do passado podem ganhar novas formas e ressoar com força para plateias contemporâneas.
Assista abaixo:
